Em busca da maioridade de Campinas
Campinas é a grande cidade do interior paulista, referência para todos os que buscam os sinais da metrópole em meio de regiões provincianas. Alcançamos o que se chama de qualidade de vida e desenvolvimento as custas de muito trabalho e empenho. Essa é a cidade que ouvimos falar e que estamos colaborando para construir num futuro cada vez melhor e mais promissor. Correto? Em meio a tudo isso, em algum momento de nossa história, começaram a ser plantadas sementes que hoje em dia estão gerando frutos de qualidade e procedência duvidosa. Frutos esses que geram discórdia, atraso desenvolvimentista e, acima de tudo, benefícios individuais que beiram o absurdo dentro da história da política nacional.
Para uma cidade que deveria ser a líder em políticas de desenvolvimento da região, Campinas está perdida em meio aos seus próprios tropeços. A chamada Região Metropolitana de Campinas (RMC) é hoje em dia uma das regiões mais prósperas do interior paulista e tem Campinas como sua líder natural, fruto do empenho e esforço dos moradores da cidade. Mas se nada for feito, no médio e longo prazo perderemos essa posição pela simples falta de alinhamento entre os diversos membros integrantes do nosso governo municipal. É fato que, por mais de 10 anos, praticamente não existe administração municipal confiável na cidade de Campinas.
Mesmo que façamos vistas grossas, não há como negar que a cidade vem sendo pilhada e depredada por um longo período de tempo. E com previsões nada animadoras de seu futuro. Os períodos de aparente desenvolvimento recente, nada mais foram do que a manifestação dos esquemas de corrupção que foram descobertos posteriormente. Ou seja, o recurso público
promovia alguma melhora aparente na cidade para os cidadãos e, na sequência, esse mesmo recurso fluia para o bolso dos seus respectivos ladrões. Dizem que o parasita sábio é aquele que sabe como roubar recursos dos seus hospedeiros sem debilitá-los. E isso vem sendo feito, de forma lenta e gradual, por um longo período de tempo.
"Ah, mas isso nada tem a ver comigo." - pensa o inocente leitor - "Porque eu continuo levando minha vida honestamente, contribuindo para o bem estar da cidade e pagando meus impostos em dia.". E é assim que acontece a maior falha histórica da população: Não basta apenas fazer a sua parte e imaginar que todos também estão fazendo. É preciso olhar para o lado e observar o que está sendo feito além dos muros de nossas próprias casas. Levar uma vida honesta é apenas uma parte do trabalho, que é o trabalho individual. Campinas é muito maior que isso. A cidade nasceu do esforço conjunto de grupos de pessoas com objetivos comuns. Mas atualmente o esquema de exploração econômica é tão repressor que nos faz acreditar que devemos lutar apenas pela sobrevivência individual ou, no máximo, de nossa família. E quando fazemos isso, abrimos espaço para um exército de parasitas se infiltrarem no poder público e pilharem aquilo que é fruto de nosso trabalho.
"Mas não dá tempo de cuidar de minha família e vigiar o que a prefeitura está fazendo..." - rebate o leitor. E, novamente, podemos dizer que qualquer cidadão tem por obrigação acompanhar o que acontece em sua cidade. E basta pensar pequeno para termos um retorno gigantesco: Ao vigiar o próprio bairro e, acima de tudo, os atos do prefeito e dos vereadores que se elegeram através do voto dos moradores de seu bairro, você já estará prestando um serviço de grande valia para toda a cidade de Campinas. Mesmo que não tenha votado no referido prefeito ou vereador, é obrigação deles atender as demandas de seu bairro: É um direito seu garantido pelo sigilo do voto. Temos a falsa idéia de que se não tivermos dado nosso voto para um determinado vereador, não temos nenhum relacionamento direto com ele. E isso é um falha grave.
Tanto o prefeito quanto os vereadores são funcionários de nossa cidade e devem ter o respeito de nos atender em nossas necessidades e de serem cobrados da mesma forma. Assim sendo, basta que registremos nossas demandas junto a Câmara Municipal e a Prefeitura para garantirmos, pelo menos, o direito de sermos ouvidos e termos um registro desse atendimento. O prefeito ou vereador que não fizer nada diante de uma demanda escrita e protocolada, é simplesmente omisso com a população que o elegeu. O poder público é o campeão em desculpas para nada se fazer. E em face a isso, devemos ser mais rigorosos com nossos governantes. Afinal de contas, ter um emprego onde se ganha R$ 15.000,00 mais verbas-para-tudo-o-que-pudermos-imaginar-e-mais-um-pouco e não termos de retorno nenhum tipo de trabalho concreto para nossas comunidades é, no mínimo, vergonhoso.
Mas a política hoje em dia está tão deturpada que isso faz parte de nossa etiqueta política atual: expedientes de terça a quinta, feriados super emendados, descaso público com a população, salários altíssimos e retorno zero as nossas necessidades. E se isso não fosse suficiente, a política hoje se resume, basicamente, a conchavinhos políticos, clubes-da-luluzinha que visam apenas manter alguns representantes dos partidos em posições chaves do governo para garantir o fluxo de capital constante para o bolso de uns poucos agraciados. Nada de concreto é feito: ganha-se R$ 15.000,00 por mês para terem uma conversa de botequim descompromissada igual a que costumamos ter com nossos amigos nos finais de semana.
Para colocarmos Campinas de volta nos trilhos da prosperidade, precisamos exterminar de vez com os parasitas públicos presentes hoje em dia e que foram eleitos em cima de falácias políticas e buscar novos representantes que realmente tenham um vínculo maior com a população e um compromisso público de empenho. Mas acima de tudo, precisamos encontrar aqueles políticos que tenham vergonha de explorar abertamente uma população sofrida e nada fazer em retorno a tamanha gratidão e confiança. Busquemos a maioridade de Campinas!
Reinaldo Q. Azevedo