Empresários confessam participação no Caso Sanasa

20/04/2012 14:14

Executivos da Global afirmam que pagaram propina a Demétrio e Aquino no maior escândalo de Campinas       

 

Milene Moreto e Bruna Mozer

A defesa prévia enviada à Justiça pelos empresários da Global Engenharia e Logística Ltda. coloca pai e filho, Augusto e Alfredo Antunes, na posição de réus confessos no Caso Sanasa. O documento com mais de 2 mil páginas detalha o suposto esquema de corrupção arquitetado por empresários e dirigentes públicos em Campinas para desviar dinheiro dos cofres da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S.A. Apesar de terem relatado detalhes do esquema de repasse de propina a funcionários públicos, os dois se consideram vítimas de um esquema de extorsão. Os dois também confessaram ter entregue quantias em dinheiro para o prefeito cassado Demétrio Vilagra (PT) e para o ex-presidente da empresa pública Luiz Augusto Castrillon de Aquino, como forma de garantir a presença da Global na Sanasa. Os acordos eram viabilizados pelo então diretor técnico da empresa, Aurélio Cance Júnior.

Os dois empresários chegaram a ser presos em maio do ano passado na operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público (MP), que levou para a cadeia integrantes do primeiro escalão do governo do então prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT) e empresários. Augusto e Alfredo foram denunciados por corrupção ativa (quando pagam propina). A Justiça acatou este mês a denúncia e o julgamento deve ocorrer até o final do ano.

Pai e filho trouxeram em suas defesas elementos novos para o caso e que não tinham sido relatados ao MP, como o fato de entregarem a Aquino, por exemplo, entre R$ 10 mil a R$ 20 mil por mês. Se o pagamento da propina não fosse realizado, segundo os empresários, o presidente cortava de 20% a 30% a fatura de pagamento da empresa. Os dois empresários ainda realizaram serviços pessoais ao ex-presidente, como uma reforma em imóveis e pintura.

No documento, os Antunes descrevem pedidos pessoais de Aquino. “Passado pouco tempo (desde que a Global passou a prestar serviços para a Sanasa), começaram a surgir por parte do sr. Aquino pedidos para a execução de serviços de seu interesse pessoal, quais sejam: reforma de sua chácara, reforma do local de trabalho de seu filho, pintura de determinado imóvel, etc.”, informaram os empresários.

A Global foi prestadora de serviços de manutenção predial na Sanasa de 2005 a 2010. A empresa venceu a licitação no valor de R$ 2,6 milhões. Os empresários descrevem que, após terem vencido a concorrência, começaram a surgir os pedidos para o pagamento de propina. “O sr. Aquino convocou uma reunião com o indiciado (Alfredo) quando então informou que, se a empresa Global não contribuísse com algum valor mensalmente, sua vida dentro da Sanasa ficaria extremamente difícil, podendo o contrato ser rescindido.”

Os Antunes consideraram a atitude uma extorsão e disseram à Justiça que só aceitaram pagar os valores mensais, entre R$ 10 mil e R$ 20 mil, porque tinham feito empréstimos, comprado maquinário para realizar os serviços na Sanasa e contratado cerca de 40 funcionários. Segundo eles, a Sanasa era a única cliente da empresa. A interrupção no contrato geraria um custo alto para se fazer a rescisão de todos os colaboradores, segundo os donos da Global.

Demétrio
Após a saída de Aquino da Sanasa, em 2008, os Antunes contam no documento que foram procurados por Cance. Na ocasião, o então diretor teria dito que o dinheiro pago anteriormente a Aquino deveria ser entregue ao vice do então prefeito Hélio. A vaga era ocupada na época por Demétrio.

“A partir da solicitação do sr. Demétrio Vilagra, o indiciado (Alfredo) programou um churrasco na sede da Global onde compareceram os seus trabalhadores, o próprio sr. Demétrio e sua comitiva. Nesta ocasião, foi dito ao indiciado (Alfredo) que possuía diversas dívidas de campanha e que necessitava de colaboração para quitá-las. Que os recursos deveriam dali em diante ser-lhe entregues para então fazer frente às pendências eleitorais”, descrevem os empresários ao Gaeco.

Segundo os Antunes, com a aproximação do término do contrato, por volta de abril de 2010, o indiciado (Alfredo) foi procurado pelo empresário José Carlos Cepera, que fez uma tentativa de compra da empresa. Como houve recusa por parte da Global, Cepera havia dito aos empresários que a nova licitação já estava direcionada e que pertenceria a sua empresa. A vencedora da nova licitação foi o consórcio Gutierrez e Única. Uma das empresas de Cepera figurou como sócia da Única.

Cepera foi denunciado pelo MP por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e fraudes em licitações. Os donos da Única negaram na época que tenham sido favorecidos na licitação porque Cepera participava do quadro societário.

Gaeco
O promotor Amauri Silveira Filho disse ontem que a defesa apresentada pelos dois empresários revelou fatos novos e coloca os Antunes como integrantes do esquema de corrupção. “Da nossa parte, o entendimento é de que agora o Caso Sanasa conta com três réus confessos, e não apenas Aquino”, disse.

Petista afirma que vai provar sua inocência

O ex-prefeito Demétrio Vilagra (PT) disse, por meio de sua assessoria, que continuará negando as acusações feitas pelos empresários Augusto e Alfredo Antunes, donos da Global, e qualquer participação no suposto esquema de corrupção do Caso Sanasa. Em denúncia feita pelo Ministério Público (MP) à Justiça a partir de declarações dos Antunes, Demétrio aparece como sendo o responsável por receber propina dos empresários da Global.

O petista afirma que nunca recebeu dinheiro dos empresários, mas que esteve por duas vezes no galpão da empresa Global, como afirmam os Antunes. A primeira vez teria sido durante a campanha eleitoral de 2008, junto com o também candidato Hélio de Oliveira Santos (PDT). Na época, o pedetista tentava sua reeleição como chefe do Executivo, tendo Demétrio como vice.

Sua segunda visita na Global, segundo Demétrio, teria sido após a eleição e como forma de agradecimento dos votos que garantiram sua vitória junto com Hélio.

Em depoimento oferecido aos promotores do Gaeco, em maio, quando estavam presos, Alfredo e Augusto Antunes disseram que, em uma dessas visitas, Demétrio teria os presenteado com garrafas de vinho. O petista nega e afirma que apenas tomou o vinho oferecido durante o encontro. Por meio de sua assessoria, Demétrio disse ontem que “vai comprovar sua inocência” e que mantém sua palavra sobre o que tem defendido desde quando as denúncias vieram à tona.

Demétrio assumiu a Prefeitura de Campinas em agosto do ano passado, quando o então prefeito Hélio foi cassado pela Câmara. Diante das acusações, uma nova Comissão Processante foi instaurada pelos parlamentares tendo Demétrio como alvo. O petista também foi cassado em dezembro por quebra de decoro. Assumiu o seu lugar o presidente da Câmara, Pedro Serafim (PDT), que permanecerá no cargo até 31 de dezembro.

Antunes
A advogada dos Antunes, Gláucia Cois, disse que não vai se manifestar e que todas as informações constam na defesa prévia apresentada à Justiça e ao MP. O telefone celular que antes era de propriedade dos empresários agora está em posse da advogada. Eles não foram encontrados.

 

Por:Rac