O problema é só “lá em cima”?

Por Rafael Unger *

 

Aumento salarial de 126 %, descaso com as finanças públicas, lavagem de dinheiro, corrupção envolvendo governo e empresas e vãs discussões de cunho meramente partidárias. Um bom resumo da atual gestão política de Campinas que, em seu discurso eleitoral, gritava aos 4 cantos da cidade o slogan ”Primeiro os que mais precisam”. Contraditório, não?

Tal problema relacionado às políticas públicas não é exclusivo da atual administração de Campinas, tampouco limitado apenas à esfera municipal de administração governamental. É como um câncer já diagnosticado, porém não tratado de maneira correta. Contudo, caro leitor, não desejo apenas fazer uma crítica política palatável aos olhos de quem lê, muito menos fazer uma crítica aos governantes (já tem muita gente competente fazendo isso). Quero atentar-me a um outro problema: o que nós, cidadãos de um país democrático, estamos fazendo para mudar isso?

Se sua resposta for apenas participar de eleições, repense seus conceitos. Sou de uma geração posterior ao período ditatorial no país (1964 – 1985) e, através de estudos e relatos pessoais de pessoas que viveram na época, é perceptível a luta pelos direitos da população para ter de volta sua força política. Após tantas lutas, conseguimos avançar para um sistema
democrático, no qual, teoricamente, as responsabilidades civis e o poder estão nas mãos do povo.

E depois? No que nos transformamos? Em seres que votam conscientemente (ato que envolve pesquisar sobre os candidatos a cargos públicos), que cobram os candidatos eleitos, que se rebelam contra ações impróprias, que faz a força conjunta se sobressair aos interesses individuais? Ou viramos apenas rebeldes de poltrona, com uma memória pífia quando os assuntos são política e, consequentemente, nação?

Sabemos de cor a escalação de nossos times de futebol do coração, sabemos sua história. Decoramos letras de músicas (em português ou em outros idiomas) dos nossos cantores prediletos, canais de televisão, cores de maquiagem, de roupa. Alimentamos nosso consumismo de forma extrema e limitamos nosso conhecimento a reality shows. Enquanto isso, o descaso administrativo se faz presente, fica fácil demais. Parabéns, “povo”! por ter jogado fora todas as conquistas do passado em vez de evoluir a partir delas. Pense nisso!


 

 

 

 

 

* Rafael Unger
Estudante de economia pela Facamp